Leitura de uma flor: criando histórias para desconhecidos.
Quando mais esperei pela notícia que queria ouvir, ela não veio. Muito tempo depois, que cronologicamente seria resumido em alguns dias, mas psicologicamente significava um grande salto dentro do eterno, a notícia veio. Fingi alegria, de repente por estar mesmo alegre, uma alegria escondida bem lá no fundo, na zona abissal do existir. Alegria confusa, onde cabe a contradição, raiva, conflito, tristeza. Onde cabe necessidade, sentimento, razão, felicidade, falsidade. Tentei compreender que aquele tipo de alegria podia ser genuinamente humano: cheio de sujeira, cheio de limpeza. Tentei compreender que era assim que cresceria. Mas não adianta, eu não entendi. Briguei comigo mesma diante do espelho e a figura refletida disse-me: “amoral” enquanto eu pensava apenas: “fidelidade”.
Esse momento de expansão tão pouco falado, mas tão desejado, esse sentimento de superar-se a si mesmo, o que isso significa? Todas minhas raízes estão fixadas num solo onde me plantaram, sair seria demasiadamente perigoso, eu poderia não me adaptar as novas condições biológicas. Imponho-me fidelidade à minha terra: “Não!” – diz o meu outro lado.
Movimento
Ser de tudo e de nada
Não ter raízes
Estar hábil para se fixar em qualquer lugar e circunstância
Ser flexível
Produtivo
Ser fiel a um único lugar, que é o espaço mais seguro que pode existir: o corpo.
Libertar a existência. Mas ai vem o paradoxo: a liberdade para com certas coisas exige a prisão a certas outras coisas.
* Este é um texto fictício, se é que isso existe.