Tuesday, July 25, 2006

Atalho para a harmonia

No escuro do quarto, onde não havia o que ver, tornando indiferente a ausência de luz, um homem fechou os olhos cansado de tentar enxergar e se concentrou na escuridão que suas próprias pálpebras fechadas resultavam. Ficou assim por algum tempo, se sentindo vazio pela falta de elementos que seus cinco sentidos poderiam perceber e ocasionar algum tipo de distração ou deleite. O homem resolveu então inventar uma história, pois assim veria alguma imagem em seus pensamentos escuros. Começou bem, mas logo desistiu, só conseguiu pensar nos dias iluminados que passava em lugares livres, sem teto e nem paredes, achando muito triste estar em tal situação. Calou sua mente concentrando-se no escuro mais uma vez e tentou lembrar porque agora se encontrava neste estado. Lembrou que tinha esposa e filhos, todos bonitos e bem coloridos, lembrou da vizinha e seu papagaio, lembrou dos pacientes que tinha no hospital, lembrou-se de Deus e dos anjos, da luz com a qual estes seres eram retratados. Mas para ele, a vista ainda era turva. Abriu novamente os olhos e experimentou ver: tudo continuava escuro, apenas com algumas lembranças que não faziam muita diferença pairando na atmosfera invisível. – Como voltar a enxergar? – perguntou-se o homem. Pensou na origem da escuridão e, é claro, não encontrou resposta, pois a escuridão é justamente o incognoscível. Pensou então em seu significado e compreendeu que o que não se vê é aquilo que não se entende, que a escuridão estava sendo usada como símbolo da falência desde os primórdios do tempo. Mais lembranças vieram para a superfície da consciência desse homem e ele recordou o dia em que deixou morrer um de seus pacientes durante uma cirurgia cardíaca, ninguém o culpou pela morte, porém o homem se sentia responsável. Fez uma expressão de lamento que não pôde ser vista e deu uma rápida piscadela com os olhos e por um momento enxergou! mas ao abrir novamente os olhos constatou que estava na negritude. O sentimento de culpa ainda o assombrava e o fazia refletir, trabalhava tanto que estava indo a loucura, perdendo o controle do que fazia, perdendo o controle de todos os compromissos. O homem analisou os últimos acontecimentos do qual lembrava ter vivido, o divórcio e a partida da mulher levando junto os filhos, apertou os olhos na ânsia de compreender que ações resultaram naqueles acontecimentos... ele era um desleixado, deixando tudo transcorrer sem o mínimo de cuidado, na naturalidade que não exigia nenhum esforço, ele não havia prestado atenção em seus gestos e muito menos em suas conseqüências. Sentiu vergonha pelo descuido, imaginou-se num mar sendo levado pelas ondas sem lutar para escolher à que lugar elas o levariam e afogou-se na escuridão de sua consciência imprudente procurando respostas. Foram minutos e minutos de silêncio dentro do quarto, não se sentia calor, não se percebia movimento, até que o homem se achou. Era estranho estar ali de novo, sentiu um formigamento no corpo, abriu os olhos e conseguiu enxergar alguns vultos à sua volta. Não via ainda com muita clareza, mas ele pôde perceber as pessoas que também estavam dentro da caixa preta, umas de olhos fechados e outras com eles abertos mexendo os oculares rapidamente com uma expressão de desespero. O homem levantou-se, caminhou tranqüilamente até a porta que podia ver e saiu por ela, agora se encontrava em um corredor, cheio de portas e muito bem iluminado.

Thursday, July 06, 2006

Queria Spinoza nunca ter existido



Estava tentando escrever aqui... várias idéias perdidas na minha cabeça, ou melhor, intransponíveis da mente ao mundo físico.

Pensava sobre "entender o outro como outro", como? Julgamos tanto as pessoas e tudo que chega até nós. Por exemplo, tem aquele garoto na minha sala que olha pra todo mundo com cara de psicopata, que sempre se intromete na conversa na hora errada e que está mais preocupado com a nota escolar dos outros do que com as dele próprio. E esse cidadão ai todo mundo critica, reclama e esculhamba, até eu. Que despresível não?Mas por que ele é assim? Por quê? Eu não sei, mas desde que eu o conheço, ele é assim, é o jeito dele. Se eu quisesse entender porque ele tem essa personalidade tão incomoda eu teria que remontar a vida inteira dele, instante por instante, porque cada pequena coisa muda tudo. As vezes eu penso que todos nós nascemos super inteligentes, com todo o conhecimento possível já dentro de nós, mas são apenas as experiências às quais nós somos submetidos que despertam tais profundos conhecimentos para a superfície, nós vivemos de e na superfície. Não há como julgá-lo, só cabe a nós julgar o que é da nossa natureza, ou seja, nós mesmos. A compreensão é limitada, porém necessária. Estou tentando compreender ao invés de julgar - o que digo a mim mesma quando começo a analizar qualquer coisa que seja. Aquele monte de gente das favelas que se vende a promíscuidade, quem trafica drogas, que rouba... e por quê? No contexto no qual eles vivem está a resposta. Quando a desculpa não são as malditas substâncias que estão no meu cérebro e são responsáveis pela minha personalidade(localizada no lóbulo frontal, go google and search about Phineas Gage) a desculpa é o "contexto social", ai tudo ganha humanismo e dizemos: perdoa, eles não sabem o que fazem ou se não: eles não tem culpa, foi a sociedade que o deixou assim, ele foi influênciado pelo meio. Tudo está na culpa do "reflexo", "tal coisa é assim por reflexo disso ou daquilo", na figura do espelho, quem é a figura do espelho? Nada, o espelho e a figura refletida nele já pertencem a outra natureza, olhe através do espelho, ahá! A figura original, ela é a culpada.

Entender o outro como o outro, chega um ponto que isso se torna uma bola de pêlo tão grande que... ah: "O desejo do homem livre é o desejo no qual, entre o ato de desejar e o objeto desejado, deixa de haver distância para haver união"

Quem é que vai completar agora?

( )


Estou seguindo uma lógica leitor. Um pensamento leva ao outro.

Saturday, July 01, 2006

Vicar in a Tutu

Todo ser humano é dotado de características singulares que fazem parte da sua personalidade. Uma pessoa pode ter características das quais você irá gostar e outras da qual não vai gostar, para ter as características das quais você gosta precisa aprender a viver com as que não gosta.

Uma daquelas frases que não são lindas e poéticas mas a gente sempre lembra por serem intensamente sábias e mudarem o curso da nossa vida: "Se você se prender aos defeitos das pessoas nunca vai conseguir conviver com ninguém, então se agarre às qualidades"

Esses são assuntos que nunca chegam em uma verdade universal, assim como tudo que é discutido nesse blog. São apenas meios alternativos de interpretar a vida construídos a partir da filosofia e que talvez nos levem a viver melhor.

Alternativa de hoje: Qualidades e defeitos não existem, mas sim características das quais iremos gostar e outras das quais não gostaremos. Tudo tem bem e mal, e um vem junto com o outro. Quer bem? Aceite o mal.

Adaptação de novo... [ai caramba! Adaptar= aprender(alternativa interpretativa ainda não bem desenvolvida)]


Van Gogh: "Ame o que você ama"

Neste momento estou amando Smiths.

Em breve com coisas melhores, vocês merecem queridos visitores(eu invento palavras e vc?) que fazem as coisas terem sentido pra mim. Relações platônicas blogósticas...