Histórinha cretina para uma manhã levemente surrealista.
José Pires da Silva, cidadão notável, trabalhador, cristão e amante da música sacra acordou sentindo fortes dores de estômago. Levantou-se com dificuldade, caminhou até o banheiro, lavou o rosto na água fria, ainda de olhos fechados tateou o armário, abriu-o, pegou um frasco de remédios que não viu, abriu-o, tomou duas pílulas do remédio que não viu. Esperou.
Dentro desta espera Clarissa apareceu: jovem, alta, esguia, cabelos loiro escuro, bonita e amável. Estava dançando um tango sozinha, deslizando pelos azulejos do banheiro, por entre a privada e a banheira, sorria debilmente. José olhou para Clarissa, tudo em volta ficou escuro, a dor no estômago agora se alastrava pelo corpo inteiro, um formigamento nos dedos, braços, pés, cabeça.
Clarissa olhando para a cara amarelo doença de José perguntou:
- Você está com fome?
- Muita fome, mas meu estômago dói.
- Ele dói de fome, eu aposto.
- Dói de dores menina! Se fosse fome eu saberia.
- Há quanto tempo você não come José?
- Ontem mesmo eu jantei... Ai!
- Você respirou enquanto mastigava?
- O que? Eu não sei, a gente respira enquanto mastiga?
- Tem gente que não, mas eu sim. Nunca tive dores de estômago.
- Você está louca menina? Que história é essa de respirar? Eu respiro o tempo todo, se não respirasse estaria morto!
- Você está morrendo... Agora mesmo!
José se sentiu confuso com o tom de calma nas palavras de Clarissa, na sua opinião ela estava ficando louca. Lamentou-se por dentro, mas isso deu lhe a impressão de ter aumentado as dores estomacais. Clarissa continuava olhando-o profundamente, expressão firmemente amável.
- AI! O remédio está fazendo efeito... AI! Sai daqui menina, não quero que você me veja assim. SAI DAQUI!
Clarissa obedeceu e saiu do banheiro dando passos solitários de um tango sem música.
José caiu no chão, barriga virada pra cima, pernas abertas com a distância de 73 centímetros uma da outra. Se contorcia em cólera, sentiu que ia morrer, pior, sentiu que ia dar vida à alguma coisa. Vomitou. Seu vômito era gosmento, cor de pastel, sem nenhum material orgânico identificável. Parecia ser um aglomerado de pele velha mal digerida.
Clarissa apareceu na porta do banheiro:
- Viu só, sua fome é tanta que seu estomago já estava por digerir-se a si mesmo!
- Me traz algo pra comer menina! Me traz logo!
Clarissa voltou com um prato de sopa. José o devorou em menos de dois minutos, enfiava colheradas de comida impulsivamente dentro da boca, sem ao menos mastigar os pedaços de cenoura ou batata.
- Você vai morrer José. Você não é de ferro.
- Pára!
- Você respirou querido José? Você comeu tão rápido. Que gosto tinha a sopa?
- Não importa, eu estava com fome!
- Você come e não sente o gosto da comida!? Inútil!
- Eu estou alimentado.
- Que gosto tinha você mesmo?
- Eu? Eu? Não sei não. Mas a sopa que você me deu tinha gosto de batata.
Dentro desta espera Clarissa apareceu: jovem, alta, esguia, cabelos loiro escuro, bonita e amável. Estava dançando um tango sozinha, deslizando pelos azulejos do banheiro, por entre a privada e a banheira, sorria debilmente. José olhou para Clarissa, tudo em volta ficou escuro, a dor no estômago agora se alastrava pelo corpo inteiro, um formigamento nos dedos, braços, pés, cabeça.
Clarissa olhando para a cara amarelo doença de José perguntou:
- Você está com fome?
- Muita fome, mas meu estômago dói.
- Ele dói de fome, eu aposto.
- Dói de dores menina! Se fosse fome eu saberia.
- Há quanto tempo você não come José?
- Ontem mesmo eu jantei... Ai!
- Você respirou enquanto mastigava?
- O que? Eu não sei, a gente respira enquanto mastiga?
- Tem gente que não, mas eu sim. Nunca tive dores de estômago.
- Você está louca menina? Que história é essa de respirar? Eu respiro o tempo todo, se não respirasse estaria morto!
- Você está morrendo... Agora mesmo!
José se sentiu confuso com o tom de calma nas palavras de Clarissa, na sua opinião ela estava ficando louca. Lamentou-se por dentro, mas isso deu lhe a impressão de ter aumentado as dores estomacais. Clarissa continuava olhando-o profundamente, expressão firmemente amável.
- AI! O remédio está fazendo efeito... AI! Sai daqui menina, não quero que você me veja assim. SAI DAQUI!
Clarissa obedeceu e saiu do banheiro dando passos solitários de um tango sem música.
José caiu no chão, barriga virada pra cima, pernas abertas com a distância de 73 centímetros uma da outra. Se contorcia em cólera, sentiu que ia morrer, pior, sentiu que ia dar vida à alguma coisa. Vomitou. Seu vômito era gosmento, cor de pastel, sem nenhum material orgânico identificável. Parecia ser um aglomerado de pele velha mal digerida.
Clarissa apareceu na porta do banheiro:
- Viu só, sua fome é tanta que seu estomago já estava por digerir-se a si mesmo!
- Me traz algo pra comer menina! Me traz logo!
Clarissa voltou com um prato de sopa. José o devorou em menos de dois minutos, enfiava colheradas de comida impulsivamente dentro da boca, sem ao menos mastigar os pedaços de cenoura ou batata.
- Você vai morrer José. Você não é de ferro.
- Pára!
- Você respirou querido José? Você comeu tão rápido. Que gosto tinha a sopa?
- Não importa, eu estava com fome!
- Você come e não sente o gosto da comida!? Inútil!
- Eu estou alimentado.
- Que gosto tinha você mesmo?
- Eu? Eu? Não sei não. Mas a sopa que você me deu tinha gosto de batata.
3 Comments:
clarissa pensou no gosto de morango-frutas-escuras e comeu seu abacaxi suculento fazendo bastante baruylho e se lambusando, um vento fresco soprou e clarissa se lembrou de ir ao sol que solava em seu jardim de grama verde ressém regada pela mangueira de suas abundancia festiva. o homem sem nome agora pensava no futuro, uma mistura de futuro imediato com futuro mais geral, uma mistura do que ia fazer depois daquela tarde ensolarada com o que queria fazer para saciar a sua fome existencial...e pensava "essa clarissa não sabe de nada, o que que tem a ver a minha fome existencial com batatas?!"
José,
em seu prato fuga
fugiu de si,
tal como o estômago
que o queria pra si.
José, ao fundo,
não ouviu a menina,
José espantou-se,
espantou-se da pantamima.
José, ao fim
comeu,
comeu como se fosse rei...
não era chico, ou coisa moraes,
mas comeu,
como se fosse rei.
Eu não sei comentar NO seu blog.
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