Tuesday, February 21, 2006

Crônica moderna do cotidiano deturpado

Hoje eu queria ter um diário, era tudo do que eu precisava, queria ter coisas estranhas e constrangedoras para contar nele, queria ter alguma novidade, queria dizer que cai em praça pública e ralei o joelho, queria dizer que roubaram o livro de chamadas da professora grávida, queria dizer que eu aprendi a não ter medo e aprendi a desenhar, queria dizer que finalmente terminei de ler àquele livro e assisti àquele filme, que arrumei meu guarda-roupas e encontrei cartas velhas de amigos nele, que conheci o grande amor da minha vida na sessão de Trilhas Sonoras da loja de Cds, mas que coisa... eu nem acredito em um grande amor, eu nem tenho nada de importante pra escrever aqui hoje, então eu faço exercícios na bicicleta ergométrica para sentir o movimento que a própria vida não tem e se limita a mover o corpo sem sair do lugar.

Thursday, February 16, 2006

Pano de fundo raso



Olha o pano de fundo desintegrando-se
para mostrar a parede bonita que há por trás,
mal pintada assim por mãos de pouca experiência
mas pintadas assim com muita vontade.

Olha ali o que tem em azul:
o apanhador de sonhos fracassado.
A noite toda é surreal
e assim os dias
e assim a parede do pano que cai.

Olha ali a boca que treme,
mas ensiste em sorrir,
porque o lençol do fundo do quarto caiu.
Olha os olhos perdidos,
porque a parede mostrou um universo novo,
ela ali tão rude em cimento e tijolos deformados.

Mãos que vivem
destroem o pano de fundo.
É preciso ousar
e é preciso de novo do novo.

Olha que o vento balança os panos de fundo,
que enfeitam e fazem brilhar, não é José?
Olha que as paredes são concretas
e tão discretas em rima fraca.

Oh céus, mãos subversivas e às vezes iconoclastas
que desejam não mais que a verdade das paredes sem pintura padronizada.




* Na verdade eu ia era atualizar meu fotolog (é, eu tenho!), colocar qualquer foto que me deixasse com cara de bicho e não de gente, porque os bichos são muito mais graciosos na minha opinião. Então eu olhei pra essa foto e me surgiram frases e frases e frases... nem adianta colocar isso no flog porque as pessoas não vão ler porque já que o texto passa das 2 linhas...

Monday, February 06, 2006

Tarkovsky




" Exatamente pelo fato de que a arte não se exprime em termos lógicos, nem sempre é possível fazer com que uma mensagem seja compreendida pelo público. Não se pode forçar ninguém a apreciar um filme. Nisso reside parte do talento do artista. Muitas pessoas não aceitavam os filmes de Tarkovsky, e os consideravam entediantes. Para outra parcela do público, suas películas constituíam intensas reflexões filosóficas. A princípio o que Tarkovsky tenta dizer é que para gostarmos de arte, e particularmente de seus filmes, precisamos ter vontade e capacidade de se entregar ao artista. Numa alusão religiosa, o diretor diz que precisamos ter predisposição e muita fé. Muitas vezes, as pessoas não estão dispostas a refletir, então ouvimos "Não gosto deste filme, é muito cansativo."
Para Tarkovsky, Goethe está completamente certo, quando diz que ler um bom livro é tão difícil quanto escrevê-lo. Uma boa obra de arte, deve contar com bons intérpretes. Numa boa obra de arte é impossível separar qualquer um de seus componentes, seja o conteúdo ou a forma, pois uma obra prima transcende qualquer classificação.Pela falta de um público mais crente, Tarkovsky chega a afirmar que a arte não ensina nada a ninguém, "uma vez que em quatro mil anos não aprendemos nada." Se fossemos capazes de nos entregar as obras primas e assimilássemos completamente seu conteúdo, "já teríamos nos transformado em anjos há muito tempo."
"

http://www.wezen.com.br/wezine/tarkovs.htm

Eu não acrescento mais nada...