Wednesday, July 14, 2010

Desassossegos...

"Irrita-me a felicidade de todos estes homens que não sabem que são infelizes. A sua vida humana é cheia de tudo quanto constituiria uma série de angústias para uma sensibilidade verdadeira. Mas, como a sua verdadeira vida é vegetativa, o que sofrem passa por eles sem lhes tocar na alma, e vivem uma vida que se pode comparar somente à de um homem com dor de dentes que ouvesse recebido uma fortuna - a fortuna autêntica de estar vivendo sem dar por isso, o maior dom que os deuses concedem, porque é o dom de lhes ser emelhante, superior como eles (ainda que de outro modo) à alegria e à dor.
Por isto, contudo, os amo a todos. Meus queridos vegetais!"

F.P. (Bernerdo Soares)

Deuses tem homores e nós, por outro lado, muitas vezes temos nenhum.
Salve a apatia de amar a homens inanimados que resta à nós, os demens.

Wednesday, May 05, 2010

A decisão

“Em geral não se diz que uma decisão nos aparece, as pessoas são tão zelosas da sua identidade, por vaga que seja, e da sua autoridade, por pouca que tenham, que preferem dar-nos a entender que reflectiram antes de dar o último passo, que ponderaram os prós e os contras, que sopesaram as possibilidades e as alternativas, e que, ao cabo de um intenso trabalho mental, tomaram finalmente a decisão. Há que dizer que estas coisas nunca se passaram assim. Decerto não entrará na cabeça de ninguém a ideia de comer sem sentir suficiente apetite, e o apetite não depende da vontade de cada um, forma-se por si mesmo, resulta de objectivas necessidades do corpo, é um problema físico-químico cuja solução, de um modo mais ou menos satisfatório, será encontrada no conteúdo do prato. [...] Se permitíssemos em afirmar que as nossas decisões somos nós que as tomamos, então teríamos de principiar por dilucidar, por discernir, por distinguir, quem é, em nós, aquele que tomou a decisão e aquele que depois a irá cumprir, operações impossíveis, onde as houver. Em rigor, não tomamos decisões, são as decisões que nos tomam a nós. A prova encontramo-la em que, levando a vida a executar sucessivamente os mais diversos actos, não fazemos preceder cada um deles de um período de reflexão, de avaliação, de cálculo, ao fim do qual, e só então, é que nos declararíamos em condições de decidir se iríamos almoçar, ou comprar jornal, ou [...]”



p.41-42.Saramago.Todososnomes.

Friday, April 23, 2010

A vida quando se está só

Se você sente solidão, quando não está a sós, você está em má companhia.


I. Ser e estar

Em alguns momentos da vida é possível se sentir uno, absoluto, completo, sem se perceber diante do outro o tempo todo. Se existe um outro, existe um eu... mas não estou falando desses momentos incômodos, estou falando daqueles em que o outro se anula, porque o eu se anula, e só há o ser (to be).
O pior momento da solidão, e talvez o único que exista, é aquele momento em que você não está em sua própria companhia. Isso acontece, mesmo quando não existem doses de tequila - ou qualquer coisa assim - envolvidas.
Diante da multidão, nos portamos todos como pavões querendo chamar a atenção da fêmea para o momento crucial da perpetuação da espécie. E nessas horas, que me percebo fazendo papel de pavão, me pergunto “O que é que estou fazendo?”. Isso é a solidão. O mal estar de não se saber onde está.

Saturday, April 03, 2010

Back to the future

Ser forte é saber que é impossível lutar contra certas coisas. Em certos momentos, se manifesta uma resignação a se querer lutar contra aquilo que não pertence a nossa natureza. Insistimos veementemente em lutar contra o tempo, em apressar os ponteiros do relógio, fazê-los voltar no tempo ou preverem as horas do futuro.
Em certas vezes é demais a tentação em penetrar no mundo da fraqueza, não só para entender como ele funciona, mas também para se sentir brutalmente incapaz.
O sentimento é ação, como é possível esperar para sentir? E quando estupidamente olhamos a vida ir junto com o andar das folhas do calendário, não nos damos conta das mudanças e nem do que sentimos com elas.





From : 24/11/2006
To: 03/04/2010
same step

Monday, January 04, 2010

SOCORRO

Quando se está em grade perigo,
Quando se está só e ninguém mais está
Quando se está perdido na própria criação
Quando se está certo de que está tudo errado
e não há, em nenhum momento futuro que se possa imaginar, possibilidade de melhorar
Então grite, do fundo e profundo, se é que ainda lhe resta, : socorro, SOCORRO, so-co-rro
Quando se está sem se querer estar
esperando uma mão que o segure e diga "let me hold your hand"...
Quando o outro representa sempre um novo olhar para o que veio e virá a ser:
SOCORRO

... E pa(á)ra tudo.

Thursday, December 31, 2009

Uma fruta que apodrece antes da hora, ainda presa aos galhos da juventude que é uma árvore viva, definhando suas energias para saltar em diração a terra e não servir para matar a fome de ninguém, para servir para nada, a não ser de adubo para terra de onde só pode nascer uma vida nova.


Dizeres de fim de ano, não ritualísticos.

Saturday, October 25, 2008

Lost in Translation or Loveless


Sometimes
Close my eyes
Feel me now
I don't know how you could not love me now
You will know, with her feet down to the ground
Over there, and I want true love to grow
You can't hide, oh no, from the way I feel
Turn my head
Into sound
I don't know when
I lay down on the ground
You will find the hurts to love
Never cared, and the world turned hearts to love
We will see, oh now, in a day or two
You will wait
See me go
I don't care, when you're head turned
You will wait, when
I turn my eyes around
Overhead when I hold you next to me
Overhead, to know the way I see
Close my eyes
Feel me now
I don't know, maybe you could not hurt me now
Here alone, when I feel down too
Over there, when I await true love for you
You can hide, oh now, the way I do
You can see, oh now, oh the way I do

Monday, May 05, 2008

Paradoxos irrelevantes (ou Paradoxos fundamentais) da vida cotidiana

Sou livre, não sou.
Sou um ser subjetivo e individual, único;
não... isto é uma ilusão, sou um ser determinado por consequências reforçadoras,
PIOR, sou um ser determinado por minha herança genética e pela seleção natural.
O que penso é resultado da configuração físico-química do meu cérebro, das vitaminas que me faltam, das sinapses...
não, sou simplesmente semelhante à Deus, em perfeição e divindade, não pecarei
e se Deus está morto, e que esteja, a morte é o meu fim
e eu sou o meio, o meio e o fim da ponte... oh!
Afinal, quem sou eu? E o que não sou? Talvez a pergunta correta seja: O que quero ser? ou O que não quero ser?, não saberei ao certo, se há certo, no entanto vivo controlando as incertezas ou deixando-as me controlarem. De certa forma dá certo, de certa forma não dá. É assim para mim, para você também pode ser. Cada crença, suposição, afirmação num olhar cético não sobra nada, só um espelho e nesse espelho sobra tudo, refletido, dos seus olhos vêm a resposta, que é totalmente singular e totalmente homogênea, depende do óculos que você está usando hoje, que pode ser o mesmo de ontem e de amanhã, que pode ser sempre o mesmo, ou cada dia um diferente... cada um com sua loucura, digo, óculos, digo, jeito, digo, modo de ver algo que tende a se tornar automático se não fosse o paradoxo: ser ou não ser?

Sunday, October 07, 2007

A droga do amor III - O grande final

Diriam alguns que as paixões devem nos guiar como meios da liberdade, onde não se diz não, só sim. Diriam alguns que a virtude está em ser além da moral estúpida que nos afoga e nos faz renunciar aos desejos em prol de algo maior(?). Diriam ainda que as paixões são o que nos impedem de conquistar a tal liberdade pois nos afasta do dever e da consciência do que é certo. Pois que sejam todas essas especulações consideradas ao lado de muitas outras, a verdade é que ninguém (generalizações) é capaz de renunciar a esse sentimento que eleva nosso humor e ruboriza nossa face.

Mas, o que nos leva determinadamente à renúncia? Lembrem-se que, segundo estudos científicos, o nosso cérebro se vicia nos hormônios da paixão e logo eles cessam para dar origem a um relacionamento profundo ou ao fim dele. Como se relacionar diante a fragilidade de opostos que não se complementam, mas se disputam? Se como diz o senso comum "ninguém muda" então os casamentos sobrevivem de contos de fadas muito interessantes. Sim, caros, mudamos, nisso acredito. Nosso amor cresce em plano concreto, depois, levado pelo êxtase da compreensão que o outro lhe oferece, o amor passa a pedir mais do que pode pedir e se torna um ideal de mentiras. Podemos querer crescer dentro de um amor, mas isso não fica mais coerente diante de posições mais objetivas como "sim querida, sei que você cozinha muito mal, por isso fiz esse excelente curso de culinário, nunca mais comeremos arroz queimado" ou " sim querido, eu sei que adoro criticar o que você faz, mas agora me posicionarei como uma professora amável, que tenta ensinar seu dedicado aluno a corrigir seu erro"... oh, que idílico!

Para aprendermos qualquer ciência, exata ou não, precisamos de certo esforço, pois a compreensão se consiste na interpretação de símbolos da linguagem específica de cada ciência. Pois podemos então elevar um sentimento de grandeza, como o amor, ao nível de ciência, mas uma ciência de caráter mais particular, onde cabem as interpretações de cada parte envolvida no caso. Nas conversas de butecos já levanta-se a questão de que todo relacionamento é igual na questão das brigas e desentendimentos em geral. Um namorado raramente equivale a um amigo, pois amigos nos entendem num olhar e já se sentem satisfeitos em tomar chuva junto de outro amigo, isso resume um “programão”, no caso do namoro nunca se entende nada e nada é o suficiente para a satisfação, idealiza-se a complicação do prazer, que ops... só resulta em desprazer. Assim, vivemos profundos momentos de alegria e insatisfação, pois nosso namorado não é nosso amigo e não aceita nos acompanhar naquelas atividades que nós nunca faríamos, mas que com nosso amor seria lindo, oh, que idílico!

O fim dessas frustações mirins vem com o fim do amor, de forma forçada. Jogamos nosso corpo numa peneira a fim de sabermos quem somos, voltamos a vida normal e sem planos mirabolantes, nos apercebendo do quanto somos estúpidos e claro, mirins. Do meu ponto de vista, os animais são sempre bom exemplo quando se busca a felicidade, eles não têm moral, não têm conceitos metafísicos na cabeça, não têm crises psicológicas e agem pelo instinto. Como somos humanos, fica ai a sugestão de bater o humano com seu lado primitivo no liquidificar para deixar a vida mais homogênea, mais relax.

E finalizarei aos modos subentendidos: além da porta sagrada e limpa do mundo artificialmente luminoso existe um mudo quentinho, colorido e gracioso, amém amor.

Saturday, September 29, 2007

Suspiro úmido de satisfação

Umidade, até que enfim
o fim
do seco tempo de retaguarda.
Respiramos de vagar
porque o ar era pesado,
fardo da vida
mecanismos para viver.
Satisfação sim
é respirar assim, úmido.
Que o sol virá,
esperamos,
pois umidade excessiva
mofo podre traz.
Dia cinza, morno e úmido...
que seja,
leve para respirar,
satisfeitos.
Suspiros infindáveis
para acalentar a apnéia que interrompia um ciclo vital:
respirar sem dificuldades.